quarta-feira, 20 de março de 2013

Jantarzinho à moda indiana - de verdade

Sinto muito, mas vocês vão ter que aguentar mais um pouquinho os meus posts sobre a Índia. Como já disse, não dá para ficar indiferente.

Hoje estreei meu curry genuinamente indiano. O comprado no Brasil que usei na receita da acelga com cenoura era bem outra coisa. E fiz do jeitinho deles, um ensopadinho de legumes ao curry, mas dei um toque de Brasil, acrescentando maxixe, que agora aprendi que deve ser raspado para tirar aqueles espinhozinhos antes de cozinhar.

Então fiz assim:




- Raspei os espinhos de 6 maxixes e piquei em cubinhos. Coloquei para cozinhar numa panela junto com o conteúdo de 1 lata de tomate sem pele. Depois acrescentei 3 cenouras pequenas picadas em rodelinhas e temperei com 1 colher de chá de sal e 1/2 colher de chá de curry (ele é bem mais forte do que o que a gente está acostumado aqui no Brasil). Ao final, um toque de leite de coco para amenizar o picante (não adiantou muito, não).

- À parte, cozinhei 1 xícara de arroz integral em 3 xícaras de água (já havia deixado o arroz de molho de tarde) e temperei com 1 colher de chá de sal e 1 colher de chá de açafrão (cúrcuma) também indiano.

- Daí delirei!!!

segunda-feira, 18 de março de 2013

Bandejão indiano

Está na dúvida sobre o que pedir num restaurante indiano? Uma boa opção é o thali. Esse prato vem com um monte de coisinhas servidas numa bandeja de metal. Não tem como errar. Sempre vai ter um arrozinho, um dahl (grãos ensopados, geralmente lentilha), vegetais cozidos ao curry, coalhada (para quebrar a pimenta) e pão. Alguns vêm com uma saladinha crua, mas que é melhor dispensar, pois a qualidade da água (que é usada para lavar as verduras) é realmente ruim e não vale a pena arriscar.

Thali de um café para gringos.

Thali de um restaurante indiano mais autêntico.

Já no avião, de volta ao Brasil, lendo um livro de um autor indiano, vi a palavra thali sendo usada em outro sentido: o pratinho no qual se colocam as oferendas para as divindades nos templos. Então entendi que a tradução de thali é prato, bandeja e aí tudo fez sentido :)

domingo, 17 de março de 2013

"Parabéns para mim". Outro pedacinho da Índia.

Rishikeshi foi um capítulo culinário à parte. Graças ao senhor Rajroy, o "gerente de alimentação e bebidas" do Hotel Ganga Kinare, onde nos hospedamos nos 5 dias que passamos na capital mundial do yoga. Magrelinho e agitado, Rajroy parecia um personagem saído daquele filme A pantera cor de rosa. Super sistemático, coordenava o buffet de café da manhã, almoço e jantar do hotel com mão de ferro. Ai de quem ousasse contestar suas ordens, fosse um dos garçons de sua equipe ou mesmo nós hóspedes. E ao final da refeição ele sempre perguntava: "Gostaram da comida?". Ao que respondíamos sempre "sim", porque de fato era maravilhosa. Daí ele dizia: "parabéns para mim!". Uma figura (pena que não tenho uma foto!).

O fato de ser um buffet era um alívio para as batalhas diárias de pedir comida em restaurantes. Os cardápios nem sempre são traduzidos para o inglês, o que torna os pedidos uma espécie de roleta russa. Um buffet, em que a gente pode olhar para o que vai comer antes de escolher era realmente uma bênção. E a comida, bem menos apimentada do que o encontrado em restaurantes, lembrava bastante nosso dia-a-dia por aqui: arroz, lentilha com caldo (substituindo nosso feijão) e verdurinhas diversas.





sexta-feira, 15 de março de 2013

Um pedacinho da Índia


Mais interessante do que o próprio Taj Mahal, a beleza feminina.
Se tivesse que sintetizar meus 11 dias na Índia em uma única palavra,  eu escolheria “intenso”. Das pessoas à comida, nada passa indiferente nesta cultura milenar. Mulheres lindas, maquiadas, enfeitadas, coloridas, vaidosas, independentemente da classe/casta social. Crianças doces e curiosas, com seus olhinhos já destacados com cajal. Comida gostosa, picante, aconchegante, do pé sujo ao sofisticado entre os 100 melhores do mundo. Uma viagem definitivamente transformadora, em que a todo momento me senti testada e confrontada em minhas crenças e padrões de comportamento. 


Parque em Hauz Kaus Village
Carros e pessoas, do moderno ao tradicional.
Já no aeroporto de Delhi o primeiro choque cultural. Não passageiros não podem sequer entrar no aeroporto. Nosso amigo, portanto, estava nos esperando do lado de fora. No dia seguinte, um rápido passeio a pé pela cidade já mostra a trilha sonora de todo o período: buzinas, carros, motos e pedestres disputando seu lugar em faixas mal distribuídas, sem mão nem contramão. No meio desse caos, um parque bem legal com direito a laguinho e ruínas de tumbas do período Mughal (domínio muçulmano) em Hauz Kaus Village, o bairro cool de Delhi, onde as mulheres até usam calça jeans e é possível ir a um spa receber uma massagem ayurvedica e ver uma bela exposição de arte. Para começar a adaptação aos sabores, um restaurante com comida típica do sul da Índia, supostamente menos apimentada. É... Supostamente.

Dosa, comida típica do sul da Índia: fina massa de arroz e lentilha com molhinhos diversos.  No restaurante Navedyam, em Hauz Kaus Village.




Fabricação do pão em forno de Tandoori: Karim's.
E, mais uma descoberta, tudo é uma questão de referencial. Um dia em Old Delhi, o centro da cidade, fez o bairro onde meu amigo mora parecer o lugar mais calmo do universo. Entrar Old Delhi é atravessar um portal em direção ao século passado. Carroças, bicicletas, trajes antiquados, animais nas portas das lojas. Não bastassem todos os estímulos visuais e sonoros, aromas (ou odores, não sei) também intensos. Temperos, fumaça de motor, suor das pessoas, incenso, tudo misturado. Confesso que chegou a irritar minha garganta. Uma rua para cada coisa, que nem Brasília. Rua dos livros, rua dos temperos, rua das roupas, rua das peças de automóveis. E ao final de tudo isso, o prêmio: pão assado em forno tandoori molhado no curry de vegetais, apimentado pra caramba, mas com gosto de comida de mãe. O lugar é o famoso pé sujo local, o Karim’s, citado até nos guias turísticos mais conhecidos.




Old Delhi, um portal para o século passado.
Spice market: rua dos temperos.













Aliás comida boa foi uma grata surpresa na viagem. Fui um pouco receosa por causa do que todos dizem sobre as más condições de higiene e sobre a péssima qualidade da água, mas tomadas as devidas precauções de não comer comida de rua nem ingerir alimentos crus, não tive nenhum tipo de desconforto. O desafio mesmo é se acostumar com a pimenta. E em Delhi é possível ter uma refeição régia por 5 ou 100 reais. E o mais legal. Esses lugares onde se paga 100 reais por pessoa estão entre os melhores restaurantes do mundo, como o Chinese Kitchen no hotel Hyatt, o Indian Accent no hotel The Manor e o Travertino no hotel Oberoi.

Legumes ao gergelim ao molho picante: delícia fusion do Indian Accent.


Conforme esperado, a religiosidade está em toda a parte. Nos painéis dos carros e rickshaws, no templo de cada esquina, na temática do espetáculo de dança, nos rituais à margem do rio Ganges, na peregrinação de multidões às cavernas Jhilmil,  que ficam no topo das montanhas que rodeiam o Ganges na cidade de Rishikeshi e onde os sadhus recebem os fiéis para coletar oferendas e dar suas bênçãos.

Figuras em um singelo templo em Delhi.

Peregrinos a caminho das cavernas Jhilmil.


Bem ao contrário do esperado, a espiritualidade, por sua vez, não salta à vista. Yoga e meditação são práticas elitizadas, até na Índia. E discernir o charlatão do genuíno, uma missão quase impossível. Passamos cinco dias em Rishikeshi, a capital mundial do yoga, tentando fazer uma prática “de verdade”, receber uma massagem ayurvedica “ de verdade”, fazer uma meditação “de verdade”. Tudo isso para descobrir que se trata de uma busca inócua. Não porque não haja profissionais sérios lá. Mas porque o genuíno é, no fim das contas, o que toca a gente. Como a energia sentida ao chegar pela primeira vez à margem do rio Ganges ou um pequeno puja (ritual de oferendas) no próprio hotel ou praticar com um bem humorado yogui de 105 anos de idade. Ou simplesmente a companhia de velhos amigos queridos e dos novos que se somaram ao longo do caminho.

Amigos de longa data se deliciando no Purple Dabha em Rishikeshi.

Amigas e companheiras de aventura, no topo das montanhas que cercam o Ganges.

Direto da Polônia, novas comidas e novas amizades.