sexta-feira, 15 de março de 2013

Um pedacinho da Índia


Mais interessante do que o próprio Taj Mahal, a beleza feminina.
Se tivesse que sintetizar meus 11 dias na Índia em uma única palavra,  eu escolheria “intenso”. Das pessoas à comida, nada passa indiferente nesta cultura milenar. Mulheres lindas, maquiadas, enfeitadas, coloridas, vaidosas, independentemente da classe/casta social. Crianças doces e curiosas, com seus olhinhos já destacados com cajal. Comida gostosa, picante, aconchegante, do pé sujo ao sofisticado entre os 100 melhores do mundo. Uma viagem definitivamente transformadora, em que a todo momento me senti testada e confrontada em minhas crenças e padrões de comportamento. 


Parque em Hauz Kaus Village
Carros e pessoas, do moderno ao tradicional.
Já no aeroporto de Delhi o primeiro choque cultural. Não passageiros não podem sequer entrar no aeroporto. Nosso amigo, portanto, estava nos esperando do lado de fora. No dia seguinte, um rápido passeio a pé pela cidade já mostra a trilha sonora de todo o período: buzinas, carros, motos e pedestres disputando seu lugar em faixas mal distribuídas, sem mão nem contramão. No meio desse caos, um parque bem legal com direito a laguinho e ruínas de tumbas do período Mughal (domínio muçulmano) em Hauz Kaus Village, o bairro cool de Delhi, onde as mulheres até usam calça jeans e é possível ir a um spa receber uma massagem ayurvedica e ver uma bela exposição de arte. Para começar a adaptação aos sabores, um restaurante com comida típica do sul da Índia, supostamente menos apimentada. É... Supostamente.

Dosa, comida típica do sul da Índia: fina massa de arroz e lentilha com molhinhos diversos.  No restaurante Navedyam, em Hauz Kaus Village.




Fabricação do pão em forno de Tandoori: Karim's.
E, mais uma descoberta, tudo é uma questão de referencial. Um dia em Old Delhi, o centro da cidade, fez o bairro onde meu amigo mora parecer o lugar mais calmo do universo. Entrar Old Delhi é atravessar um portal em direção ao século passado. Carroças, bicicletas, trajes antiquados, animais nas portas das lojas. Não bastassem todos os estímulos visuais e sonoros, aromas (ou odores, não sei) também intensos. Temperos, fumaça de motor, suor das pessoas, incenso, tudo misturado. Confesso que chegou a irritar minha garganta. Uma rua para cada coisa, que nem Brasília. Rua dos livros, rua dos temperos, rua das roupas, rua das peças de automóveis. E ao final de tudo isso, o prêmio: pão assado em forno tandoori molhado no curry de vegetais, apimentado pra caramba, mas com gosto de comida de mãe. O lugar é o famoso pé sujo local, o Karim’s, citado até nos guias turísticos mais conhecidos.




Old Delhi, um portal para o século passado.
Spice market: rua dos temperos.













Aliás comida boa foi uma grata surpresa na viagem. Fui um pouco receosa por causa do que todos dizem sobre as más condições de higiene e sobre a péssima qualidade da água, mas tomadas as devidas precauções de não comer comida de rua nem ingerir alimentos crus, não tive nenhum tipo de desconforto. O desafio mesmo é se acostumar com a pimenta. E em Delhi é possível ter uma refeição régia por 5 ou 100 reais. E o mais legal. Esses lugares onde se paga 100 reais por pessoa estão entre os melhores restaurantes do mundo, como o Chinese Kitchen no hotel Hyatt, o Indian Accent no hotel The Manor e o Travertino no hotel Oberoi.

Legumes ao gergelim ao molho picante: delícia fusion do Indian Accent.


Conforme esperado, a religiosidade está em toda a parte. Nos painéis dos carros e rickshaws, no templo de cada esquina, na temática do espetáculo de dança, nos rituais à margem do rio Ganges, na peregrinação de multidões às cavernas Jhilmil,  que ficam no topo das montanhas que rodeiam o Ganges na cidade de Rishikeshi e onde os sadhus recebem os fiéis para coletar oferendas e dar suas bênçãos.

Figuras em um singelo templo em Delhi.

Peregrinos a caminho das cavernas Jhilmil.


Bem ao contrário do esperado, a espiritualidade, por sua vez, não salta à vista. Yoga e meditação são práticas elitizadas, até na Índia. E discernir o charlatão do genuíno, uma missão quase impossível. Passamos cinco dias em Rishikeshi, a capital mundial do yoga, tentando fazer uma prática “de verdade”, receber uma massagem ayurvedica “ de verdade”, fazer uma meditação “de verdade”. Tudo isso para descobrir que se trata de uma busca inócua. Não porque não haja profissionais sérios lá. Mas porque o genuíno é, no fim das contas, o que toca a gente. Como a energia sentida ao chegar pela primeira vez à margem do rio Ganges ou um pequeno puja (ritual de oferendas) no próprio hotel ou praticar com um bem humorado yogui de 105 anos de idade. Ou simplesmente a companhia de velhos amigos queridos e dos novos que se somaram ao longo do caminho.

Amigos de longa data se deliciando no Purple Dabha em Rishikeshi.

Amigas e companheiras de aventura, no topo das montanhas que cercam o Ganges.

Direto da Polônia, novas comidas e novas amizades.




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